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3 de maio de 2011

Cachoeira do Arari – Museu do Marajó

Além de exibir toda essa beleza exótica e sabores incomparáveis, a Ilha do Marajó é também o local com a maior concentração de possíveis campos arqueológicos do Brasil. Basicamente, ninguém no Marajó reforma a casa sem achar restos de cerâmica indígena, que variam de tempos modernos há 1200 anos a.C., parece brincadeira mas não é, basta cavar um buraco raso para achar restos das civilizações que viveram ali. Cálculos dos arqueólogos apontam mais de 100 mil habitantes na ilha em seu apogeu e um resumo incrível de tudo isso está apodrecendo na cidade de Cachoeira do Arari. É um museu interativo, feito em madeira, num estilo caboclo, idealizado e criado pelo Pe. Giovanni Gallo, o Museu do Marajó

Em visita ao museu arrastei inúmeras estantes com objetos de cerâmica indígena entre outros artefatos tentando salvá-los das goteiras, ou melhor, cachoeiras que começaram a cair com a chuva que se iniciou quando entrei. Desesperada e pedindo ajuda do funcionário que me recebia, tentava arrastar as coisas para os vãos ainda sem goteiras do galpão. O funcionário dizia que não adiantava muito, porque se a chuva aumentasse parte dos móveis que mudamos de lugar se molhariam da mesma forma. Dito e feito, minutos depois até guardei a câmera que usava para fotografar uma parte do acervo e chorei, como a água que vertia para dentro daquele espaço . Chorei por presenciar a invasão dos cupins e morcegos no museu que um dia foi tão cuidado pelo padre, um museu lindíssimo, planejado para receber e ensinar tanto o estrangeiro pós graduado, quanto o visitante caboclo que quisesse saber mais sobre seus ancestrais. O que presenciei ali é um crime contra a humanidade e os criminosos estão soltos usufruindo do dinheiro roubado, no bem bom em Belém do Pará.

Pelo que entendi, em 2009 assumiu uma nova direção que, além roubar 130 mil reais dos fundos de auxílio internacionais destinados ao museu, deixaram o museu à mercê do clima amazônico, sem o menor cuidado, e afastaram funcionários de confiança do padre que trabalharam lá pela vida toda. O resultado foi catastrófico: dois anos depois muitos dos registros do padre estavam apodrecidos e a casinha onde ele viveu, totalmente destruída pela falta de cuidado. Muitos dos registros dele e muitos dos livros da biblioteca sumiram, outros tantos apodreceram a ponto dos funcionários de confiança do Padre serem obrigados a jogar tudo fora. O cupim tomou conta dos tapumes de madeira e outros objetos criados pelo padre para dar um ar bem caboclo ao museu interativo, tudo gira, vira e roda com as informações sobre as civilizações que lá viveram. “Não havia como resgatar”, me contou Zezé, que hoje tomou a frente do museu e estava de lenço na cabeça, faxinando e organizando, quando estive lá no segundo dia. Os antigos funcionários do museu, que eram de confiança do padre, hoje se juntaram e tentam salvar o que ainda dá para ser resgatado. Porém, com o caixa negativo (a antiga direção deixou 16 mil reais de dívida para beneficiar empresas de amigos e parentes, um dos absurdos foi mudar o esquema de fornecimento de energia que cobrava pelo que o museu gastava para um fixo de quatro mil reais por mês, sendo que o museu pagava uma conta de 300 reais por mês), é uma tarefa hercúlea levantar o local.

Quando penso no museu me lembro daquela musica: “tristeza não tem fim, felicidade sim...”, mas me parece que o que não tem fim é mesmo a corrupção.

2 de maio de 2011

Ilha do Marajó, Salvaterra - caldo de turu

A Ilha do Marajó é uma região que chama atenção quando se pesquisa qualquer assunto no Pará. Pode-se dizer que ela é um resumo das micro regiões da Amazônia Paraense, tem praias de rio, praias de mar, igarapés, mangues, campos alagados, terra firme, lagos, cachoeiras...Um paraíso esquecido pelos governantes e saqueado por qualquer um que tenha interesse em lucrar através do tráfico, seja de animais silvestres, madeira, peças arqueológicas ou até crianças.

Fui num barco menos confortável do que da última vez, os bancos eram para uma pessoa e rígidos, ou seja, não consegui me jogar na mochila e ficar confortável, como são apenas três horas de viagem, não me importei. Lá pelas tantas o barco começou a bater muito,  estávamos mais ou menos no meio da viagem e a maré estava um pouco revolta, enjoei de ficar sentada e fui à proa ver a ilha se aproximar, comecei a conversar com umas pessoas que estavam ali olhando aquele mundo de água.

O paraense, no geral, é um sujeito incrivelmente sociável e amoroso, mal te conhece e já te trata como se fosse um amigo de infância! No fim das contas fui parar na casa dos pais do Gilmar, que conheci na proa do barco. Fui muito bem recebida, com um gancho para minha rede num quarto só meu; assim passei a primeira noite em Salvaterra, um dos 16 municípios da grande ilha. Gilmar me apresentou a um fisioterapeuta que depois do trabalho no posto de saúde de Salvaterra, se dedica a aulas de dança para comunidade local, seu nome é Dilermano. A última coisa que eu esperava nesta vida era fazer minha primeira aula de dança de salão na Ilha do Marajó, mas foi exatamente isso o que aconteceu. Porém, minha ida à Salvaterra tinha um único intuito: conhecer a iguaria local, o Turu.

O Turu é um molusco que nasce dentro das madeiras mortas repousadas nos manguezais da região, é considerado o viagra do caboclo. Tem a fama de levantar até defunto e, preconceitos a parte (por conta da sua aparência vermiforme), é uma delícia, pude comprovar.

No dia seguinte, fiz numa longa caminhada pelos manguezais atrás do tal turu, que até então nunca tinha comido e nem sequer visto. Me atolei até os joelhos na lama, tomei muito sol na cabeça a manhã toda e ao final do “passeio” tomei uma chuva daquelas bem amazônicas - parece que São Pedro resolveu esvaziar a Regan. Estava exausta, molhada e frustrada. Meu plano B era chorar as mágoas com meu contato na Pousada do Guarás, o chefe de cozinha Roberto Carvalho, e ver se ele conseguia alguém com mais experiência e mais capaz pra achar os tão falados turus. Muito simpático, Roberto me surpreendeu com um quilo de turus que ele havia encomendado um dia antes quando liguei avisando que iria à Salvaterra. Na hora ele já aprontou a “mise em place” para que eu pudesse fotografar e me ensinou a fazer o caldo do turu como os caboclos marajoaras. Deu-me para comer o turu in natura, que se come como as ostras: limão, sal e pimenta. Minutos depois eu me sentia pronta para outra “caçada aos turus” nos mangues de Salvaterra, mas fui direto arrumar as malas. Terminado o aprendizado com o Turu, era hora de seguir em frente com algumas dicas que tinha em outro município: Soure, a capital da Ilha.

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