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2 de maio de 2011

Ilha do Marajó, Soure - Delícias de Nalva

Dilermano, o simpaticíssimo professor de dança de Salvaterra, me apresentou a uma amiga que poderia me hospedar em Soure, e lá fui eu, com a maior cara de pau para casa da Wal, uma pessoa ótima, com um bom humor incrível, como a maioria dos parauaras que conheci.

Corremos aquela Soure toda de bicicleta, ela tinha uma bike encostada em casa e visitamos a Fazenda São Jerônimo, fomos à propriedade do Sr. Peua que aprendeu a fazer queijos com a bisavó e me vendeu um dos queijos mais incríveis que comi, depois jantamos dois dias seguidos na casa de Dona Ionalva, que recebe seus comensais em mesas em frente à sua sala de estar e nos contou porque o seu pequeno restaurante se chama “Delícias de Nalva”, nome que faz jus ao que se come. Até as batatas fritas dela eram as mais gostosas que já provei na vida!!
Dona Ionalva foi super solícita e sorridente, me passou várias de suas receitas tradicionais, ensinou truques que aprendeu com sua mãe e sua avó: os deliciosos segredos da cozinha marajoara. Ainda por cima, me deu seus telefones e insistiu para que eu ligasse se tivesse qualquer dúvida.

Seu restaurante já foi visitado por ilustres personalidades, inclusive a família Kennedy, que almoçou e jantou no “Delícias de Nalva” todos os dias durante a semana de estadia em Soure. O último convite feito à Dona Nalva foi para cozinhar por um mês num restaurante em Londres, mas ela não aceitou, pois acha que não conseguiria ficar tanto tempo longe de sua família e de sua cozinha. Atualmente, ela escreve um livro de receitas e lendas marajoaras, cada lenda abre caminho pra uma de suas receitas, ela faz parte do CPOEMA , mas disse que ainda não sabe como irá publicar.

O telefone celular de Dona Ionalva quando toca soa “I Will Survive”, e ela serve o licor antes da refeição, conta que por causa de uma enrolação das mucamas que estavam atrasadas com o jantar, serviu-se o licor antes da refeição dizendo que é tradição marajoara e a partir de então passou-se a tomar o licor antes das refeições na Ilha do Marajó. Ela mesma faz seus licores das frutas locais, e não preciso dizer que são deliciosos, não é?

No primeiro dia em seu restaurante eu e Wal comemos o “banquete marajoara”. Depois do licor ela nos serviu uma casquinha de caranguejo maravilhosamente suculenta coberta com uma farofa mais que crocante, uma coisa incrível. Depois veio um arroz soltinho, com peixe no molho de caranguejo, uma fritada de camarão e uma farofa com castanha do Pará. Honestamente, não sei como traduzir em palavras esses sabores tão incríveis que ela tira dos ingredientes. Então, quando eu já estava quase ajoelhada reverenciando Dona Ionalva, ela me veio com um filé de Búfalo coberto com queijo do Marajó, batatas e bananas fritas. Tudo acompanhado de um delicioso suco de bacuri e arrematado com um pudim de leite de búfala com compota de cupuaçu. Saí em êxtase, foi uma das melhores refeições que fiz na vida, e ainda por cima custou 25 reais por pessoa! Marquei de voltar lá no dia seguinte para comer a “galinha ao molho pardo” e a “galinha de mulher parida”, as duas feitas por encomenda. Depois dessas duas refeições e da deliciosa conversa com Dona Ionalva, decidi parar de jogar na mega sena por um bom tempo, já tive toda a sorte que poderia em alguns anos.

Ilha do Marajó, Salvaterra - caldo de turu

A Ilha do Marajó é uma região que chama atenção quando se pesquisa qualquer assunto no Pará. Pode-se dizer que ela é um resumo das micro regiões da Amazônia Paraense, tem praias de rio, praias de mar, igarapés, mangues, campos alagados, terra firme, lagos, cachoeiras...Um paraíso esquecido pelos governantes e saqueado por qualquer um que tenha interesse em lucrar através do tráfico, seja de animais silvestres, madeira, peças arqueológicas ou até crianças.

Fui num barco menos confortável do que da última vez, os bancos eram para uma pessoa e rígidos, ou seja, não consegui me jogar na mochila e ficar confortável, como são apenas três horas de viagem, não me importei. Lá pelas tantas o barco começou a bater muito,  estávamos mais ou menos no meio da viagem e a maré estava um pouco revolta, enjoei de ficar sentada e fui à proa ver a ilha se aproximar, comecei a conversar com umas pessoas que estavam ali olhando aquele mundo de água.

O paraense, no geral, é um sujeito incrivelmente sociável e amoroso, mal te conhece e já te trata como se fosse um amigo de infância! No fim das contas fui parar na casa dos pais do Gilmar, que conheci na proa do barco. Fui muito bem recebida, com um gancho para minha rede num quarto só meu; assim passei a primeira noite em Salvaterra, um dos 16 municípios da grande ilha. Gilmar me apresentou a um fisioterapeuta que depois do trabalho no posto de saúde de Salvaterra, se dedica a aulas de dança para comunidade local, seu nome é Dilermano. A última coisa que eu esperava nesta vida era fazer minha primeira aula de dança de salão na Ilha do Marajó, mas foi exatamente isso o que aconteceu. Porém, minha ida à Salvaterra tinha um único intuito: conhecer a iguaria local, o Turu.

O Turu é um molusco que nasce dentro das madeiras mortas repousadas nos manguezais da região, é considerado o viagra do caboclo. Tem a fama de levantar até defunto e, preconceitos a parte (por conta da sua aparência vermiforme), é uma delícia, pude comprovar.

No dia seguinte, fiz numa longa caminhada pelos manguezais atrás do tal turu, que até então nunca tinha comido e nem sequer visto. Me atolei até os joelhos na lama, tomei muito sol na cabeça a manhã toda e ao final do “passeio” tomei uma chuva daquelas bem amazônicas - parece que São Pedro resolveu esvaziar a Regan. Estava exausta, molhada e frustrada. Meu plano B era chorar as mágoas com meu contato na Pousada do Guarás, o chefe de cozinha Roberto Carvalho, e ver se ele conseguia alguém com mais experiência e mais capaz pra achar os tão falados turus. Muito simpático, Roberto me surpreendeu com um quilo de turus que ele havia encomendado um dia antes quando liguei avisando que iria à Salvaterra. Na hora ele já aprontou a “mise em place” para que eu pudesse fotografar e me ensinou a fazer o caldo do turu como os caboclos marajoaras. Deu-me para comer o turu in natura, que se come como as ostras: limão, sal e pimenta. Minutos depois eu me sentia pronta para outra “caçada aos turus” nos mangues de Salvaterra, mas fui direto arrumar as malas. Terminado o aprendizado com o Turu, era hora de seguir em frente com algumas dicas que tinha em outro município: Soure, a capital da Ilha.

Belém pela quarta vez


Pela primeira vez pude ver a imagem da qual todo paraense se orgulha: Belém da janela do avião . Sempre ouvi dizer que era lindo ver a cidade no meio da mata, mas eu sempre chego com chuva e muita chuva. Meu voo chega às 14h30, quando não atrasa, e essa é a hora em que Belém está recebendo aquela refrescada mais que merecida. Dessa vez a chuva tinha parado quando o avião em que eu estava sobrevoou a Baia de Guajará, e pude ver com meus próprios óculos a cidade brotando da mata, uma visão linda mesmo, como se Belém fosse uma ilha de edifícios de concreto no meio de uma imensidão verde recortada pelos braços de rios de "águas brancas" da bacia do Guajará. Encontrei alguns amigos, brindamos com chope gelado da Cerpa e no dia seguinte, embarquei para a Ilha do Marajó.

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